Henrique Ventura
28 DE JUNHO - DIA INTERNACIONAL DO ORGULHO LGBTQIA+
Dia 28 de junho de 1969 o vermelho da bandeira colorida ganha mais destaque. Queria conseguir falar dessa data de forma utópica e reviver sonhos como “Heartstopper” mas, mesmo eu, carregado de privilégios sei que a realidade é distópica e o filme “Moonlight” desenharia uma trajetória mais próxima da nossa realidade.
Quando se trata de ser LGBTQIA+ a gente já não carrega mais o direito de sermos quem somos. "Não pode sentar assim", "não pode falar assim", " não pode usar essa cor". Somos despidos do nosso eu, assumindo falas, personalidades e um caráter que não nos pertencem. Vestimos uma vida pré-moldada pela expectativa de familiares que já decidiram quem somos antes mesmo de nascermos. Você realmente é tímido ou roubaram seus traquejos sociais? Com quantos anos você percebeu que a vida que você levava não fazia sentido pra você? Você ainda nega seus reais desejos?
A sigla LGBTQIA+ carrega uma história representada por cada uma das letras, que muitas vezes se originaram de forma pejorativa. Sabemos que a luta pela diversidade é constante e hoje, mais do que nunca, vem sendo evidenciada em prol da liberdade. Engloba pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers, Questionando, Intersexuais, Assexuais e, o “+” é o termo coringa que se refere a todas as letras da sigla completa como Curiosos, Aliados, Pansexuais, Polissexuais, Familiares, 2-espíritos e Kink.
E se hoje conseguimos debater questões que já foram estreitas e assombradas, foi graças a Marsha P. Johnson, Travesti, Preta e ativista que desbravou com muita sapiência e vigor a luta pelos direitos de toda a comunidade. Marsha liderou a rebelião de Stonewall, bar frequentado por LGBTs (ainda em atividade) que sofriam repetidas batidas policiais sem justificativas, em ações de bastante truculência e preconceito. No dia 28 de junho de 1969, os frequentadores do bar decidiram se levantar e encurralaram os policiais, desencadeando o que seria a primeira marcha em prol dos direitos da comunidade LGBTQIA+.

Fachada do bar Stonewall na década de 1960. O bar ainda está em atividade no mesmo lugar nos EUA e foi tombado como patrimônio nacional.

Primeira marcha a favor do direitos LGBT+ em 1970, um ano após a revolta de Stonewall.
O Brasil, país que mais mata LGBTs no mundo, destoa de mais de 50 anos da luta em Stonewall, dando ainda mais contraste à realidade brasileira que carrega o título de maior parada do orgulho LGBTQIA+ do mundo, e mesmo assim vulnerabiliza pessoas e corpos queers.
Marsha lutava e protagonizava as reais dificuldades da falta de direitos e vulnerabilidade não só de gays e lésbicas, mas principalmente de travestis que assumem até hoje a frente da luta em busca dos direitos de toda uma comunidade. E mesmo lutando diariamente contra a invisibilidade transexual e travesti, em 1992, o corpo de Marsha foi encontrado no rio Hudson, próximo ao bairro onde viveu e militou. Classificada como “suicídio”, as circunstâncias de sua morte nunca foram totalmente esclarecidas ou investigadas.
Após 30 anos de sua morte, o legado e a trajetória da ativista precisam ser lembrados para fortalecer ainda mais um país enfermo e cruel com toda uma comunidade. É preciso falar sobre direitos quando as mortes de LGBTs batem na porta de uma questão de saúde pública.

Capa do documentário A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson, da Netflix (Foto: Divulgação/Netflix)
São 53 anos desde o Stonewall e o Brasil aprendeu alguma coisa?
Referências:
"A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson" - Documentário Netflix
https://www.fundobrasil.org.br/blog/o-que-significa-a-sigla-lgbtqia/