Esse título parece estranho para você? Será? Vem comigo, vamos viajar pela História e fazer uma reflexão.
No dia 08 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher, e muitas pessoas consideram esse dia apenas uma data de homenagens às mulheres. No entanto, diferente de outras datas comemorativas, esse dia não foi criado pelo comércio. Possui raízes profundas e dolorosas. É um dia para lembrar todas as mulheres que lutaram e ainda lutam contra o patriarcado e o sistema opressor no qual vivemos. Esse dia existe para lembrar a todos que nós, mulheres, estamos aqui e sabemos onde queremos chegar! Essa história é longa e não está perto do fim, mas seguimos lutando!
Vamos viajar pelas principais lutas e conquistas das mulheres ao longo da História, mas, antes, é preciso compreender que cada mulher, dentro de sua cultura, religião e contexto político e histórico, ocupa um lugar diferente na sociedade, e é preciso que tenhamos TODAS elas sempre em mente. As mulheres na Arábia Saudita, até 24 de junho de 2018, não tinham o direito de dirigir. Essa conquista parece pequena (talvez aqui para nós, mulheres brasileiras, seja uma realidade distante) mas para aquelas que dependiam de um outro homem para ir e vir, é uma vitória inestimável.
Criar uma linha do tempo da luta do movimento feminista é uma grande responsabilidade e eu tenho grande receio de deixar de fora importantes detalhes. Por esse motivo, vou tentar abordar os episódios mais relevantes, relacionados a direitos que contemplam um número maior de mulheres. Mas, volto a ressaltar que, assim como a luta das mulheres árabes pelo direito de dirigir, toda e qualquer conquista é de extrema importância para todas nós mulheres e para a sociedade como um todo.
É comum relacionar o Dia da Mulher ao incêndio ocorrido em Nova York, no dia 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company. Nesse dia, 146 trabalhadores morreram, dos quais 125 eram mulheres e apenas 21 eram homens, fato que trouxe à tona as más condições de trabalho que as mulheres enfrentavam durante a Revolução Industrial. No entanto, existem registros anteriores a esse fato, que revelam menções à reivindicação das mulheres para que suas causas, dentro do movimento trabalhista, fossem colocadas em pauta - suas condições de trabalho eram piores que as dos homens da época.
Em 26 de fevereiro de 1909, aconteceu a grande passeata das mulheres nos Estados Unidos. Aproximadamente 15 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova York por melhores condições de trabalho - as jornadas chegavam a 16h diárias, seis dias por semana e muitas vezes incluíam o domingo. Em paralelo, crescia o movimento nas fábricas na Europa. Clara Zetkin (feminista, professora, jornalista e política marxista alemã), em iniciativa pioneira de articulação coletiva, em agosto de 1910, propôs, na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a criação de uma jornada de manifestações, a fim de conseguir espaço para as causas das mulheres e a luta pela igualdade de direitos dentro do movimento sindical e socialista.
Em 08 de março de 1917, aconteceu um importante protesto na Rússia. Mulheres saíram às ruas para manifestar contra a fome, para exigir melhores condições de trabalho e a saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial, episódio que foi o estopim para o início da Revolução Russa. Após a revolução bolchevique, a data foi oficializada entre os soviéticos como celebração da "mulher heróica e trabalhadora".
(Revolução Bolchevique - 1917 | Reprodução | Getty Images)
Em 1975, a ONU oficializou o dia 08 de março como o Dia Internacional da Mulher, mas a data é comemorada desde o início do século XX. Esse dia tem importância histórica, porque trouxe à luz um problema que não foi resolvido até hoje - a desigualdade de gênero. Desigualdade essa que permeia diversos aspectos da vida em sociedade, tal como as condições de trabalho - uma das questões centrais da luta do movimento feminista, e que continuam sendo piores que as dos homens, no mundo todo.
No Brasil, o movimento feminista do século XXI luta contra a opressão do patriarcado (situação de inferioridade em que a mulher vive na sociedade em relação aos homens) e pela equidade, igualdade de direitos e oportunidades.
As reivindicações estão relacionadas, dentre outras:
ao fim da violência contra a mulher (cultura do estupro; assédio físico, psicológico, moral, sexual e patrimonial; violência obstétrica; entre outros);
igualdade da participação das mulheres na política do país, tanto na ocupação de cargos políticos como na tomada de decisões;
ao fim da desigualdade salarial (na prática) entre homens e mulheres;
políticas públicas de saúde ligadas diretamente à condição de mulher, como prevenção de doenças, sexualidade e discussão sobre o direito ao aborto;
direitos relacionados à maternidade e à amamentação;
E aqui vale lembrar aquela questão sobre compreender que cada mulher, dentro de sua cultura, religião e contexto político e histórico, ocupa um lugar diferente na sociedade. É de suma importância que cada grupo de mulher (brancas, negras, lésbicas, prostitutas, indígenas, transexuais, mulheres de periferia, mulheres com deficiência, etc) tenha suas causas respeitadas e englobadas no movimento feminista como um todo. No final das contas, independente das diferentes vertentes do movimento feminista, somos todas mulheres com um objetivo em comum.
Trinta e dois anos depois da promulgação da Constituição Cidadã, ainda existem diversas pautas a serem analisadas e atendidas. A violência contra a mulher, infelizmente, cresce a cada dia (e cresceu consideravelmente na pandemia) mas também cresce o número de mulheres em papel de representatividade, acima de tudo, na política. Os movimentos feministas se multiplicaram, estão cada vez mais fortes e são de suma importância em questões como educação, emancipação e empoderamento das mulheres. Sim, muitas de nossas conquistas ainda são frágeis e não consolidadas, mas é fato que hoje temos voz e gritamos. Os problemas estão às claras e não entre quatro paredes.
Entendeu agora porque DiaS Das Mulheres? A história do movimento feminista é antiga e gigante, todo dia é dia de luta, de celebrar as nossas conquistas e jamais esquecer tudo que ainda precisamos conquistar, de direito nosso! 💪🏼❣️
Segue abaixo outras datas de igual importância:
1792: ano em que Mary Wollstonecraft escreve "A Vindication of the Rights of Woman: with Strictures on Political and Moral Subjects", defendendo o acesso ao sistema educacional pelas mulheres.
1893: as mulheres neozelandesas conquistam o direito ao voto.
1918: movimento sufragista britânico conquista o direito ao voto.
1920: acontece, nos Estado Unidos, o movimento das sufragistas e o direito ao voto é conquistado pelas americanas.
1922: fundada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), em prol dos direitos civis e políticos das mulheres.
1932: o novo Código Eleitoral Brasileiro é promulgado por Getúlio Vargas, dando para as mulheres o direito ao voto.
1943: eleita a primeira deputada brasileira, Carlota Pereira Queiróz. No período da Segunda Guerra Mundial, surgiu a imagem da operária Naomi Parker Fraley, o que simbolizava a luta das mulheres que assumiram os postos de trabalho no lugar dos homens que foram para o conflito. O lema criado foi "We can do it".
1945: a Carta das Nações Unidas reconhece, em documento internacional, a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
1949: Simone de Beauvoir publica "O Segundo Sexo", como uma análise da condição feminina e o papel da mulher na sociedade.
1951: a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aprova a igualdade salarial entre homens e mulheres em funções iguais.
1961: criada a primeira pílula anticoncepcional via oral, o que significaria uma revolução de costumes e culminaria na liberdade sexual.
1962: o Estatuto da Mulher Casada é aprovado no Brasil, lei que contribuiu para a emancipação da mulher em diversas áreas. As mulheres casadas não precisavam mais da autorização do marido para trabalhar fora de casa, além do direito de requerer a guarda dos filhos em caso de separação, dentro outros.
1974: Isabel Perón torna-se a primeira mulher presidente de uma nação, a Argentina.
1980: criado o movimento "Quem Ama Não Mata" (QAMN) que teve seu primeiro ato na escadaria da Igreja São José, em Belo Horizonte. O movimento foi criado para protestar contra a violência doméstica e o feminicídio, chamando a atenção para um novo tipo de crime, que, em 1980, ainda não era falado.
1983: é criado o Conselho Estadual da Condição Feminina de São Paulo, órgão institucional composto por mulheres com a missão de elaborar políticas públicas destinadas a eliminar a discriminação sofrida pelo segmento feminino da população.
1985: criada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em São Paulo.
1987: criado o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM) do Rio de Janeiro.
1988: avanços na Constituição Brasileira por meio do Lobby do Batom.
2003: Marina Silva assume o Ministério do Meio Ambiente.
2005: Angela Merkel é eleita a nova chanceler alemã, a primeira mulher a ocupar o cargo na história do país.
2006: sancionada a Lei Maria da Penha.
2010: Dilma Roussef é eleita como a primeira presidente mulher do Brasil.
2015: sancionada a Lei do Feminicídio.
E ah, EM BRIGA DE MARIDO E MULHER, SE METE A COLHER SIM!! 🥄
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