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O Feminismo e suas correntes de pensamento


== O QUE É FEMINISMO ?


Na atualidade ouvimos falar bastante sobre o conceito do feminismo e suas características mas embora o termo seja comum e amplamente difundido nos dias de hoje, há também bastante preconceito acerca do tema e a difusão de algumas ideias equivocadas. Vamos então destacar algumas designações sobre o movimento e desmistificar o papel social do feminismo.


Primeiramente, o feminismo não prega discurso de ódio e nem dominação das mulheres sobre os homens. A luta é por equidade e pelo fim da dominação de um gênero sobre o outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é dominação e o feminismo é luta por equidade. Dessa forma, quando uma pessoa diz não ser feminista, ela alega que não se deve valer todos os direitos das mulheres e assim não prega a equidade.


Outro paradigma que deve ser quebrado é o de que o feminismo defende que as mulheres devem deixar de usar batom, se depilar, usar salto, esconder o corpo, ser obrigatoriamente solteira ou lésbica e não ter filhos. Feminismo vai além, feminismo é liberdade de toda e qualquer escolha da mulher visando a não opressão. O feminismo não é um livro de regras, é um processo de estudo e compreensão do nosso papel na sociedade. É a luta por condições dignas de existência.


Abaixo, destacamos alguns pontos importantes acerca do movimento feminista no mundo, mas vale ressaltar que por se tratar de um assunto complexo e com uma história gigante, deixaremos algumas referências ao final do texto para posterior aprofundamento.


O feminismo é um movimento organizado social e político que existe desde o século XIX e pressupõe a tomada da consciência das mulheres como um coletivo da opressão, dominação e exploração por parte dos homens, no aspecto patriarcal, em diversas fases da história dos meios de produção. A ideia central é a busca pela libertação das mulheres em todas as esferas sociais. Pode ser traduzido como uma luta coletiva pela equidade em que se almeja uma sociedade mais justa e equânime para as mulheres.


A palavra feminismo foi utilizada pela primeira vez na metade do século XIX pelo socialista Charles Fourier com a afirmação de que o progresso social e evolução como um todo tem como condição primária a conquista de direitos pelas mulheres.


A teoria feminista aborda que se deve compreender, identificar e desconstruir armadilhas da nossa própria socialização que nos mantém submissas aos homens. É de suma importância a compreensão do funcionamento do patriarcado para que possamos reagir frente à opressão e a todo esse sistema que aprisiona as mulheres.


A luta feminista foca na obtenção dos direitos civis e nesse cenário as mulheres são as protagonistas na reivindicação de igualdade política, jurídica e social. Não há sexismo. A movimento feminista não busca a imposição de superioridade feminina, e sim equidade.


A priori, as bandeiras iniciais feministas defendiam o acesso à educação formal, o direito ao voto, a elegibilidade para as mulheres, liberdades civis e autonomia legal como: direito a posses, direitos trabalhistas e direito ao divórcio. Posteriormente, a reivindicação se estende para os direitos reprodutivos, a luta contra a violência física, sexual e psicológica.


O feminismo luta pela autonomia do próprio corpo da mulher (por exemplo, a decisão de ter ou não filhos), combate a hiperssexualização dos corpos e também a busca pela independência e emancipação financeira.


É fundamental que na contemporaneidade se tenha foco nas pautas femininas e que discussões e questionamentos sejam promovidos a fim de melhor compreendermos o papel da mulher na sociedade. Os direitos das mulheres têm sido validados? O que se pode fazer para acabar com a opressão e machismo no ambiente em que vivemos? Que medidas sociais estão sendo tomadas para um mundo mais igual? Estamos sendo assertivos e desafiando a desigualdade?


O feminismo luta contra toda e qualquer tipo de violência que envolva as mulheres. Questionar o governo para que novas políticas públicas sejam criadas é papel social e fundamental. Somente assim, é possível uma sociedade mais igualitária, com bem estar e dignidade para as mulheres.


== ONDAS FEMINISTAS


Uma “onda” feminista é um momento histórico relevante da militância onde determinadas pautas e questões das mulheres insurgiram e dominaram o debate. Uma das formas de agrupar mulheres em determinada “onda” é cruzando ideais (defendidos por essas mulheres denominadas feministas) com seus momentos históricos.


O movimento feminista pode ser dividido em 4 ondas. Abaixo, destacamos alguns pontos de cada uma delas.


Primeira onda - século XIX e início do século XX

  • Reivindicação das mulheres pelo voto feminino e o questionamento dos papéis submissos e passivos dentro do contexto social;

  • Busca por participação política e na esfera da vida pública;

  • Retórica predominante do liberalismo e universalismo onde se defendia que mulheres e homens deveriam ter os mesmos direitos e oportunidades (de estudo, trabalho, participação política, dentre outros.) - feminismo igualitário.


Segunda onda - segunda metade da década de 60

  • Olhar voltado para a sexualidade feminina - libertação sexual e o prazer feminino, direitos reprodutivos e a questão do estupro;

  • Invenção da pílula anticoncepcional e a reivindicação do sexo desatrelado à procriação;

  • Discussões em torno da violência doméstica e trabalho doméstico não remunerado, bem como planejamento familiar;

  • Momento histórico da famosa “queima de sutiãs” e a discussão sobre a estereotipização da mulher.


Terceira onda - década de 90

  • Criação do conceito de interseccionalidade - soma de marcadores como raça, classe, orientação sexual dentre outros à opressão da mulher;

  • Questionamento da heteronormatividade e a criação do conceito de transfeminismo;

  • Discussão sobre o Colonialismo e a influência dos países hegemônicos sobre a construção do feminismo nos países periféricos;

  • O feminismo indígena e pós colonial inclui o fator geopolítico do colonialismo nas reivindicações de gênero.


Quarta onda - hoje

  • Abrange sobretudo as mulheres jovens;

  • Militância política cresce nas redes sociais. Sites, blogs e mídias com hashtags de denúncia são amplamente divulgadas, bem como campanhas globais como: #nenhumaamenos de 2015 e #metoo de 2017;

  • Organização da marcha das vadias, movimento cujo protesto reivindicou os direitos de uma vítima de estupro culpabilizada pelo ato por estar com roupas consideradas inadequadas;

  • Chimamanda Ngozi, importante líder feminista escreve o livro “Sejamos todas feministas”. A escritora trata de estereótipos sobre o feminismo e a necessidade da causa ser defendida para todos e não somente para as mulheres.


Vale ressaltar que há pesquisadoras que não consideram a quarta onda como o momento atual do movimento feminista, com a defesa de que nesse período não aconteceu nenhuma grande revolução, classificando-o então como o fortalecimento e difusão de todas as outras ondas.


== "VERTENTES" DO MOVIMENTO FEMINISTA


A luta da mulher contra o patriarcado vem sendo travada há mais de um século e é devido a esse movimento e suas conquistas que se fez possível o início do estudo sistematizado do fenômeno da opressão - mas isso é relativamente recente. Durante muito tempo as mulheres estiveram excluídas dos bancos das universidades e apenas recentemente conseguiram conquistar o direito a alfabetização e ao estudo. No Brasil, os homens ainda são a a maioria nas áreas de pesquisa e não há interesse por parte deles em estudar o fenômeno no qual eles representam a parte opressora. Há pouco tempo que começamos a desenvolver e difundir nossas próprias teorias e uma maneira própria de analisar e interpretar nossa história e nosso papel na sociedade - nossa própria exploração, nossa realidade. E é aqui que surgem as tais "vertentes" do feminismo.

Os estudos em torno do movimento feminista geraram ramificações que em certos momentos se complementam, em outros se contrapõem, mas sempre buscando a problematização da nossa opressão. Essas chamadas "vertentes" nada mais são que correntes de pensamento dentro do movimento feminista.


Vamos apresentar aqui uma breve definição das principais: feminismo liberal; feminismo marxista; feminismo negro; feminismo lésbico; feminismo anarquista e feminismo radical.


Feminismo Liberal (liberalismo aplicado à questão feminina)


O entendimento do chamado Feminismo Liberal, hoje, é envolto em equívocos de semântica. Em uma rápida pesquisa no Google, por exemplo, é possível encontrar a utilização da expressão "feminismo liberal" como referência ao contexto histórico da primeira onda feminista, bem como referindo-se a corrente de pensamento chamada de "vertente".


Primeiramente precisamos compreender o feminismo liberal pelo olhar histórico da primeira onda do feminismo para então ser possível o entendimento de sua relação com o feminismo liberal enquanto corrente de pensamento atual.


Os teóricos liberalistas possuíam ideias de oposição ideológica às doutrinas monárquicas, de Estado absolutista — o que conjectura críticas à ausência de direitos, à parcialidade inerente a um Estado absolutista, à falta de mobilidade social, ao autoritarismo econômico, político e social, etc.


Os primeiros liberais defendiam a liberdade do indivíduo - de votar em quem quisessem, de terem propriedades e fazerem com elas o que bem desejassem; dentre outros. Mas vale ressaltar aqui que o liberalismo é fundamentalmente individualista, com foco no indivíduo e suas liberdades pessoais. Nascido de um solo burguês e patriarcal, suas principais expressões não consideraram as mulheres, burguesas ou não.


Nesse contexto, as primeiras mulheres que começavam a articular ideias de um feminismo ainda incipiente, se fundamentaram no liberalismo. Se os teóricos liberais defendiam que todos os seres humanos são iguais e com direitos civis, então as mulheres estariam incluídas, naturalmente. E então, pautadas pelo liberalismo, as primeiras feministas passaram a defender direitos, tais como a participação na esfera pública, o direito ao trabalho e ao controle de seus ganhos etc. Nesse momento surgiu a primeira onda feminista, pautada pela igualdade. Hmmm... ? 🤔


Mas e o "feminismo liberal" enquanto corrente de pensamento atual? Continua se relacionando com os ideais liberais. Por trás dela, está a filosofia que prega o predomínio das liberdades individuais frente ao pensamento coletivo. Defende que a mulher é capaz de articular suas escolhas e capacidades, e que deve buscar a equidade com o gênero masculino através de suas próprias ações, embora sem desconsiderar o direito de livre associação caso seja necessário ou ainda desejado. O feminismo liberal defende a busca por reformas legais e políticas sempre que denunciada disparidade de tratamento jurídico e/ou social entre homens e mulheres, que coloque estas em posição de desvantagem. Em suma, segundo o pensamento feminista liberal, as desigualdades se relacionam ao tratamento social dado às mulheres e não em questões inatas relacionadas ao gênero.


Se pensarmos mais um pouco vamos perceber que o liberalismo, nascido de solo patriarcal, individualista e burguês exclui da matemática as estruturas da sociedade. Estruturas essas que condicionam e limitam nossas liberdades (independentemente de nós as termos institucional e formalmente). Agora, deixamos aqui uma provocação. Nós, mulheres, somos totalmente livres ao fazermos escolhas e tomarmos decisões?? 🤔


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


Feminismo Marxista


O feminismo marxista defende que ao se tratar de relações de opressão, o trabalho se localiza no centro. Não é possível compreender as categorias usadas para tratar dessas relações (categorias de gênero, como também raça e sexualidade) sem que o estudo se estenda à cerne da opressão, o trabalho. Ou seja, antes dessas categorias, deve-se pensar na noção de “classe”. O feminismo marxista argumenta que o capitalismo, mesmo não sendo o responsável pela invenção da opressão de gênero, apropriou-se dela a seu favor. Dessa forma, para as feministas marxistas, a emancipação feminina somente será alcançada com a revolução socialista/comunista (“A equidade genuína entre os sexos só pode ser efetivada no processo da transformação socialista da sociedade como um todo”, Mao Tse-Tung).


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


Feminismo Negro


O Feminismo Negro denuncia o sistema racista-patriarcal. É um movimento social e protagonizado por mulheres negras, com o intuito de promover e trazer visibilidade às suas pautas e reivindicar seus direitos. Essa corrente do pensamento feminista tem como objetivo principal a reformulação das estruturas sociais, através da abolição de opressões impostas à mulheres negras, mulheres essas que ocupam a base das pirâmides sociais no sistema racista-patriarcal. Uma de suas ferramentas de análise é o conceito de Interseccionalidade (conceito sociológico que tem como foco as interações e marcadores sociais nas vidas das minorias), desenvolvido pela defensora dos direitos civis, professora universitária e uma das principais estudiosas de Teoria Crítica da Raça, Kimberlé Williams Crenshaw.


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


Feminismo Lésbico


O Feminismo lésbico (ou lesbiandade radical) acredita na lesbiandade como uma forma de articulação contra a heterossexualidade, esta considerada compulsória e imposta pelos homens com a finalidade de controlar e oprimir as mulheres.


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


Feminismo Anarquista


Também conhecido como Anarco Feminismo e Feminismo Libertário, se trata do movimento pela emancipação da mulher através de um viés anarquista. A única solução para a libertação da mulher, segundo o olhar Anarco Feminista, é através da destruição do Estado e do sistema de classes, que segundo essa corrente de pensamento são os responsáveis pela opressão da mulher.


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


Feminismo Radical

Também chamado de feminismo materialista, o feminismo radical tem como objetivo colocar em evidência que, independentemente de cor, classe, idade, nacionalidade, contexto político e histórico, dentre outros, todas as mulheres são oprimidas pelo fato de serem mulheres: a base de nossa opressão é sexual. Essa corrente de pensamento observa que ainda que haja diferenças relacionadas, por exemplo, à cultura e religião, as mulheres do mundo todo formam uma mesma classe sexual e compartilham a mesma opressão, e que é possível delinear pautas comuns a todas elas, tais como: o fim da maternidade compulsória, a abolição da prostituição e da pornografia, a institucionalização de direitos sexuais e reprodutivos (como o direito ao aborto), e o fim da cultura do estupro. Em suma, o Feminismo Radical defende a emancipação da mulher através da abolição de gênero.


Para saber mais sobre os ideais dessa corrente de pensamento, acesse:


== Mais alguns dados






Escrito por:

Maria Paula Veríssimo Carrera

Valquíria Rego



Referências:


Ritt C.F. A conquista da educação pelas mulheres na história do Brasil, a violência doméstica praticada contra a mulher e a aplicação do art. 41 da Lei Maria da Penha, para a punição do agressor da violência de gênero. Revista do Curso de Direito da FSG, ano 6, n. 12, jul./dez. 2012



https://medium.com/qg-feminista/quais-s%C3%A3o-as-principais-vertentes-do-feminismo-ae26b3bb6907



http://www.marxismo.org.br/content/feminismo-segundo-a-perspectiva-marxista-parte-1/


https://www.geledes.org.br/feminismo-negro-sobre-minorias-dentro-da-minoria/



http://klitorianarevolucao.blogspot.com/2013/01/anarco-feminismo.html









https://medium.com/qg-feminista/o-que-%C3%A9-o-feminismo-630886ab3abf


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2 Kommentare


Carolina
Carolina
08. März 2021

Sensacional a escrita e o compromisso com uma leitura histórica e crítica do movimento feminista!!! Seguimos lutando juntas, mulherada!

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Maria Paula V. Carrera
10. März 2021
Antwort an

Carolina, obrigada! 🤍 Eu e Val ficamos muitos felizes que tenha gostado do nosso texto!! ☺️ E simm, claaaro, seguimos lutando juntas SEMPRE! 💪😉

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