“quarentena do consumo” – Lidewij Edelkoort
(A trendforecaster Lidewij Edelkoort | Reprodução)
“Parece que estamos entrando massivamente em uma quarentena do consumo, onde aprenderemos a ser felizes apenas com um simples vestido, redescobrindo velhos favoritos que possuímos, lendo um livro esquecido…”. Essa reflexão é da especialista em previsão de tendências de comportamento, Lidewij Edelkoort, em uma entrevista dada a revista de design e arquitetura, Dezeen.
Li Edelkoort faz observações interessantes sobre como o sistema econômico vigente é frágil diante de uma ameaça global como o coronavírus e traz reflexões profundas sobre o impacto da indústria nos âmbitos social e ambiental.
Quais as consequências desse desaceleramento compulsório?
Indubitavelmente, a economia é a primeira a ser afetada. O coronavírus estremeceu os mercados, derrubou a bolsa e fechou fábricas na China. É de lá que, muitas vezes, até 90% dos produtos de empresas do mundo todo são fabricados a partir de substâncias derivadas de petróleo, tal como plástico e poliéster. O que acontece quando grande parte das empresas responsáveis por essa produção fecha de um dia para o outro? Há um impacto social e ambiental.
Milhares de pessoas estão sem emprego, em isolamento social, com medo e tomados pela insegurança de um futuro incerto. “Uma recessão global de magnitude nunca antes experimentada”, mas que segundo Li Edelkoort, oferecerá uma chance para que a humanidade repense e redefina seus valores. “O impacto do surto nos forçará a desacelerar o ritmo, recusando-se a pegar aviões, trabalhando em nossas casas, entretendo apenas entre amigos ou familiares próximos, aprendendo a nos tornarmos auto-suficientes e atentos.”
Imagens de satélite da Nasa revelam outra consequência da diminuição da atividade industrial na China por dois meses. O que isso significa?
Quanto mais “próspera” a economia, pior para o meio ambiente? Pior o meio ambiente fica, mais o sistema de consumo florece?
Quando tivermos o vírus sob controle e pudermos recomeçar, milhares de empresas terão sido eliminadas do mercado. Se por um lado, é um momento de luto, por outro, é onde encontra-se a esperança. A chance de uma reorganização econômica baseada no respeito pelo trabalho, pelas condições humanas, não na exploração do meio ambiente e de pessoas.
O que acontecerá quando não encontrarmos ´aquele` produto ´daquela` marca tão querida e que é produzido em outro continente? Sempre há a possibilidade de comprarmos algo semelhante de uma empresa local. Isso leva a uma mudança no comportamento de consumo e as prioridades passam a ser revisitadas. Os valores terão sido reavaliados ou será preciso mais uma crise para que a humanidade consiga recomeçar?
(Mulher usa máscara de proteção contra o coronavírus | Getty Images | reprodução)
Texto perfeito, com uma visão bem especifica, muito esclarecedor. Parabens Mary !